🎙️ Metáfora Caipira: “A Arca de Noé das Sementes"
Na beira de um riacho manso, morava o velho Tião do Mato — um daqueles homens que já vinham com terra debaixo da unha desde o berço. Sabia o tempo de plantar só de olhar pro céu e conhecia cada cheiro de vento.
Um dia, sentou na varanda com o netinho Chico, que vivia grudado num tablet.
— Vô, pra que serve semente se dá pra comprar tudo no mercado?
Tião pigarreou, coçou o bigode e respondeu com aquele jeito sábio de quem ensina sem parecer professor:
— Ô, menino… a semente é mais do que comida. Ela é memória. É como uma história que dorme enroladinha, só esperando o momento certo de acordar.
Chico franziu a testa.
— Mas por que guardar, se dá pra plantar de novo?
Tião sorriu.
— Imagine, meu fi, que o mundo entra numa enchente braba. Igual na história de Noé. Só que, em vez de salvar bicho, a gente precisa salvar comida. Como é que faz?
Chico pensou.
— Bota tudo num barco?
— Num barco gelado, lá no meio do gelo, igual tão fazendo lá na Noruega — disse Tião, com um brilho nos olhos. — É a “Arca das Sementes”! Um cofre no meio do nada, guardando cada grãozinho que um dia pode salvar o mundo.
O menino arregalou os olhos.
— E o senhor tem uma dessas?
Tião apontou pro paiol.
— Tenho, sim. Meu cofre não é de aço, mas é forte. Guardo milho do meu pai, feijão da minha mãe, e um bocado de fé que plantei com a vida toda. Aqui, cada semente tem nome e saudade.
Chico ficou quieto um tempo, depois largou o tablet e correu pro paiol com o avô.
Daquele dia em diante, o menino aprendeu que uma semente não é só o começo de uma planta — é o recomeço da humanidade.
🌱 Moral da história:
Guardar uma semente é como guardar um pedaço do futuro.
É como manter viva a memória de quem veio antes e a esperança de quem ainda vem.
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