A História do Filho Pródigo

Uma cidade, uma fazenda, uma família. Simples, humilde, mas onde o amor e a graça resplandeciam sobre eles. Tinham dois filhos. Os dois trabalhavam com afinco nos afazeres campestres. Ordenhar a vaca, cuidar da plantação, dar ração aos animais, enfim, tudo transcorria na mais perfeita harmonia. Até que um dia o mais novo, fascinado com as luzes da cidade, pelos amigos de infância, pela promessa de liberdade que o mundo ilusório o oferecia e pela cobiça que entrou em seu coração, resolveu pedir sua parte da herança ao seu Pai. O Pai ficou a perguntar-se o porquê daquela decisão, pois junto do Dele o filho tinha casa, comida, proteção, amor, cuidado, enfim, tudo o que uma pessoa deseja e anseia. O Pai tentou de todas as formas persuadi-lo para que desistisse de tal ato impensado. Enumerou ao filho diversos motivos pelos quais o filho não deveria apartar-se Dele, mas tudo foi em vão. O filho estava irredutível, pois seus olhos, suas cobiças, seus desejos de liberdade, posto que imaginava-se como um prisioneiro na casa de seu Pai, tinham corrompido o seu coração. Não havia mais alegria, paz, amor e desejo de estar na casa paterna, apenas desejo de conhecer um novo mundo ainda não explorado, ainda não vivido. O filho estava disposto a correr todos os riscos e perigos que essa guinada na vida lhe imporia. Seus sentimentos estavam à flor da pele, não pensava mais em nada além de sair da casa paterna e ir em direção ao novo mundo.
Três dias depois, é chegado o grande dia. Com malas nas mãos, o filho pediu o dinheiro que lhe pertencia da herança. Seu íntimo era só alegria. Seus olhos brilhavam de felicidade. Sentia-se como estivesse saindo de uma prisão. Estava cansado de sua casa, seu irmão, dos criados de seu Pai, dos afazeres cansativos da fazenda, enfim, tudo o entediava. Mas agora, tudo estava preste a mudar. O muro imaginário que o aprisionava estava preste a ser destruído, à hora tinha chegado. Seu Pai, com uma dor enorme em seu coração, pois sabia que o filho seria incapaz de sozinho conseguir viver naquele mundo cruel que o esperava, com lágrimas nos olhos, dá ao seu filho a parte da herança que cabia a ele. O filho salteia de alegria pela herança recebida e nem ao menos agradece ao Pai, muito menos se despedi Daquele que, agora para ele, era um aprisionador, carrasco e frustrador de seus sonhos e anseios. A felicidade era tamanha que nem ao menos olhou para trás, pois agora só conseguia enxergar o mundo que se lhe abria. O filho parte deixando seu Pai em pedaços, pois ele tentou de todas as formas persuadi-lo, mas sem sucesso. A dor de ver seu filho partindo foi insuportável, lagrimas rolam copiosamente pelo rosto do Pai. A dor era sobre-humana. Mas no coração do Pai ainda ficou uma esperança de um dia poder revê-lo, de tê-lo novamente em sua casa, debaixo de sua proteção.
O filho parte rumo ao desconhecido. Pelo caminho conhece pessoas boas, ruins, tem alguns contratempos, mas enfim chega a uma cidade linda e aprazível aos seus olhos e o melhor, bem distante da cidade de seu Pai. Havia na cidade de tudo, festas, bebidas, droga, músicas que lhe alimentavam a alma, enfim, tudo o que seu coração desejava e sonhava estava se tornando realidade, superando até mesmo suas expectativas. Não tinha mais preocupações de acordar cedo, trabalhar. Tudo agora era apenas festa e alegria. Tudo era novidade e das boas. O jovem, sem pensar em nada, vira noites e noites em festas. Sua sede insaciável por alegria e diversão não o deixava olhar para a vida real, pois em nenhum momento passou em sua cabeça trabalhar, se estruturar na cidade, pois a quantia que recebera de seu Pai era muito boa e permitia-lhe viver tranquilamente sem trabalhar por algum tempo. No auge de sua mocidade, queria apenas curte a vida, sem se preocupar com responsabilidade alguma. E assim foi até o seu dinheiro acabar.
Agora, depois de muitas noites de festas e alegrias, tudo começou a mudar. Caindo em si, percebeu que todo o seu dinheiro tinha acabado. Seus amigos de noitadas o deixaram, pois já não tinha nada a oferecer-lhes e, assim, ele começa a entrar em um estado de desespero e depressão. Não havia mais ninguém para regozijar-se com ele. Todos o abandonaram. Um vazio na alma o consome por dentro, pois nada havia para preenchê-la. O sentimento de solidão, de não poder conversar, desabafar com ninguém era extremamente doloroso. Suas expectativas quanto à alegria e felicidade da vida afastada do Pai desmoronam. Ele chora. Mas ele não se dá por vencido.
Despedido da casa que alugara para morar, vai de encontro a um comerciante da cidade que o manda para o interior da cidade cuidar de sua fazenda. Como ele tinha experiência, aceita a oferta de imediato. Chegando à fazenda, se depara com um lugar praticamente ermo, pois aquela região estava em um grave período de estiagem e já algum tempo não havia comida. Alguns animais morriam de fome, outros de cede. Só em alguns dias a comida era ofertada aos animais, comida está que apenas era sobra das mesas dos peões mais antigos. Como ele não tinha se enturmado, os peões nada o ofereciam, havendo apenas a comida dos animais para saciar sua fome. Passado alguns meses, não agüentando mais aquela situação, o jovem entra mata adentro e, debaixo de uma árvore, desaba a chorar. Chora copiosamente por horas.
A felicidade de outrora era agora apenas amargura, tristeza, solidão e dor. Ele se sentia incapaz de mudar aquela situação. Sua estima era zero. Por um momento pensa em suicidar-se. Mas, em meio ao choro, a dor, a angústia e desespero, ele começa a se lembrar da casa de seu Pai. Começa a recordar-se de como era feliz. Percebi que a cobiça, rebeldia e soberba cegou-lhe totalmente da realidade em que vivia e isso o faz se arrepender amargamente a ponto de dizer: -“Porque fui deixar a casa de meu Pai, pois lá tinha paz, alegria e segurança? Era bem tratado pelos seus empregados, respeitado por todos. Por quê? Voltando eu serei ainda recebido por Ele? Humilhando-me, ainda assim me tomaria de volta? Isto farei, levantar-me-ei e voltarei a casa de meu Pai, não como filho, mas apenas como empregado, pois seus empregados comem muito melhor do que eu agora, talvez assim Ele me receba e me sacie a fome.”E assim começa sua peregrinação de volta a casa de seu Pai.
No caminho, uma série de incertezas e dúvidas o consumia por dentro. Por diversas vezes pensou em voltar, pois, no seu coração, havia a incerteza do seu recebimento ou não por parte de seu Pai. O medo tomava conta de tal forma que já não via o seu Pai, que o era tão amável e carinho com ele, como Pai, apenas como um sanguinário vingador. Ele andava três passos, voltava um. Um mix de medo e vergonha era seu alimento diário. Pensava consigo mesmo: “- Meu pai não irá me aceitar, pois manchei o seu nome. Fui rebelde. Não quis ouvir sua voz. Os seus empregados e meu irmão irão me recriminar e dirão a meu Pai para não me aceitar de volta. Acho que não permitirão nem que eu fale com meu Pai” A dúvida era o que mais consumia suas forças. Mas, em meio ao turbilhão que estava se passando dentro de si, ele ainda assim encontrou forças para continuar. Foram sete dias intermináveis até chegar à cidade onde morava seu Pai.
O Pai todos os finais da tarde ficava na porteira da fazenda esperando seu filho voltar. Nunca perdeu a esperança de poder de novo abraçar seu filho. Era uma esperança que jamais se apartou do coração do Pai.
Um dia, já quase o Sol se pondo totalmente, o Pai avista uma pessoa vindo em direção de sua fazendo. Como estava quase tudo escuro não pode avistar com clareza quem era. A pessoa estava vestida com uma roupa toda rasgada, cabelo comprido, barba por fazer, enfim, parecia um pedinte. Mas em uma distância de aproximadamente cinqüenta metros, o Pai conseguiu enxerga nitidamente quem era. Era aquele que ele esperava todos os dias na porteira de sua fazenda. Era seu filho amado que estava perdido. O Pai não se conteve de alegria, larga tudo que estava segurando em suas mãos e corre em direção de seu filho. O filho já extremamente cansado da viajem cai no chão. O Pai segura-o em seus braços e o beija carinhosamente. O filho, agora de joelhos diz: “- Pai pequei contra o céu e perante a Ti, já não sou digno de ser chamado de teu filho.” Mas o Pai, em puro êxtase de alegria disse a seus servos: “Venham todos, levem ele para dentro de casa, trocai as suas roupas, colocai um anel em seu dedo e sandálias em seus pés, pois hoje o meu filho que estava morto reviveu, estava perdido e foi achado.” E todos os seus servos alegraram-se com o dono da fazenda.
Confesso que não foi fácil escrever tudo isso, pois a história do Filho Pródigo é a minha. Por diversas vezes tive que parar de escrever para chorar. Chorei porque fui ingrato, soberbo e desobediente ao Pai. Queria apenas o que os meus olhos carnais viam. Chorei porque eu estava me escrevendo. Este ensaio é especial porque pus nele todo a minha alma, sentimentos, amor, percepção. Ficará gravado aqui no blog e em meu coração este ensaio. E assim como filho, aquele mesmo que por livre e espontânea vontade decidiu apartar-se do seu Pai, foi aceito de volta, sem acusações, perguntas ou castigos, assim também Deus fez comigo e fará a todos aqueles que se apartaram da sua “Fazenda”. Ele aceita a todos de volta, pois cada um de nós somos jóias do mais profundo valor ao Senhor, posto que Ele enviou o seu Filho até nós para que, pelo seu sangue, fossemos reconciliados com Ele. Volte, volte enquanto é tempo. Deus ainda te espera na “Porteira da Fazenda”. Um beijo a todos.
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